sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Amor de engenharia



Suas integrais, confesso, cansam-me a vista. Suas derivadas de umas derivações advindas de outras questões são mais problemáticas em suas pequenas porções.
Não quero a frieza de teu cálculo, ou o giro do te compasso. Não quero teu desenho perfeito. Mesmo que seja o mais técnico. Não quero uma racionalidade que mata os pequenos prazeres. Não quero a distância de saber que está ali. Não quero teu pranto, nem dor, tricotando tecidos de pouca cor. Não quero uma rotina que não tem faz bem. Não quero teus olhos opacos, teus sorrisos distantes e teus toques atroantes.  
Eu quero a síncope de samba num bater compulsivo de emoção, um compasso de pausa que simplesmente nos faz estender a mão. Talvez um compasso só de percussão, pra me lembrar que aqui ainda bate um coração. Eu quero as harmonias francesas sob nossos pés. Em meio de abraços. As canções que embalam a alma para além de notas e fórmulas. Eu quero a liberdade de sentir-me preso. Numa capacidade de poder mudar meu andamento com um simples olhar. Eu quero o primeiro toque de piano, na cozinha com você o degustando. Eu quero-te mulher, amiga e menina, assim como sei que és. Quero ver meu canto te desatinar te lembrar sobre a existência de um terceiro céu, longinquamente adornado e preparado para onde poderemos nos transportar sempre que desejarmos. Quero minha boca ao teu ouvido cantando Vinícius, Schubert, Chico, Debussy, Tom, Fauré. Os de costume. Gerando os sorrisos, olhares e toques que sempre amei reconhecer.
Mas não quero sua engenharia. Não! Não! Não! Não quero seus esquemas que beiram um estado de apoteose quântica. Quero sua simplicidade romântica. Mas quero que, por favor, deixe essa engenharia fora do nosso amor.

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Sobre águias e homens


Escrever de fato, tem se tornado algo não muito freqüente em meus dias. Uma pena, de veras, já que dedicava um delicioso tempo me perdendo em minhas linhas e claro, me envolvendo nos meus devaneios corriqueiros.
Não sou cronista ou escritor, creio que não tenho tanta habilidade com as sentenças carrancudas de nossa língua para tal, apenas me atrevo a limitar-me a códigos, letras, frases tentando encontrar sentidos em minhas sentenças que possam ir além dos períodos de um enunciado.
Pois bem, tendo terminado essa primeira parte, de explicações, para quem possa importar, quero de fato deter-me ao ponto que decidi escrever nessa manha. Sobre águias e homens.
As águias são um forte exemplo de beleza e força, uma combinação delicadamente perigosa, uma amostra graciosa de inteligência e destreza. Para os mais desavisados, a idéia da águia pode parecer uma obscura ilustração, visto que: o que um animal tão diferente do ser humano pode nos ensinar ? Que semelhança pode de fato haver entre homens e águias? Ou melhor. Que semelhanças deveríamos ter com as águias?
As águias são aves de rapina, e como toda ave de rapina tem garras e bico muito bem afiados, bem como uma plumagem que as permite literalmente deslizar pelos ares enquanto caçam. O fato é que próximo aos seus quarenta anos a águia passa por um doloroso processo que a permite viver mais trinta anos. Processo esse onde ela arranca todas suas penas, suas garras e bate contra uma rocha com seu bico, até este ter saltado fora. Tempos depois a plumagem cresce novamente, as garras e finalmente o bico, renascendo assim como uma fênix da vida real.
Não temos bicos, garras, muito menos asas. Se bem que algumas pessoas não têm a menor vergonha de serem tratadas como pessoas com cérebros de galinha, visto que não possuem uma única idéia que valha a pena na cabeça. Mais isso são considerações para um outro encontro. Entretanto possuímos a necessidade de nos reinventarmos, de renascermos apesar das mais profundas dores dessa vida tão fugaz que nos rodeia. Como uma medida de dizer não a tudo que nos deseja ver sucumbir.
Homens não voam, não por eles mesmos, não tem asas nem bicos, mas deveriam aprender com as aves, com as águias especificamente  o que é o poder de um  se humilhar, morrer, para poder viver. Matar o orgulho, esse ar pedante que os cerra os olhos ao passo que facilmente e silenciosamente ele, o orgulho pode vir a destruir algo tão belo e tão singelo como uma vida, uma existência, um amor.
Sobre águias e homens.
Adriano de Sousa.



domingo, 1 de setembro de 2013

Meu soneto...


As ideias vagas passeiam silenciosamente sobre os meus dedos, gerando rabiscos num velho papel. Lá fora chove num linda manhã de quarta, o frio a um certo tempo já me visitou, as lembranças percorrem por meus lábios e suspiros.
Ponho-me a escrever, descrever, entrever, atrever,  as linhas do meu soneto, são suaves, que facilmente  tragam meu olhar em súbito golpe, torno-me seu. Meu soneto tem linhas tão lindas que eu nem me atrevo e modifica-las, e afinal porque eu faria tal ação? Se até suas arestas são especialmente lindas.

Meu soneto tem olhos de mel, pele de fada e com toda certeza não passaria despercebida pelas ninfas. Meu soneto tem um sorriso lindo, mãos doces e amáveis, doques desejáveis a qualquer poeta, eu, entretanto, conquistei este soneto com doçura e sutileza, arrematando sua alma e coração, assim como ela soneto fez comigo. Eu aqui do lado analiso cada métrica, cada verso seu. Meu soneto tem a face serena quando dorme, sobre seus cabelos nem pensa no amanha, apenas é e estar.
Meu soneto tem rimas doces, que não me enjoam, versos inteligentes que não me confundem. Meu soneto é mulher, e menina quando quer, meu soneto é mulher e eu seu aspirante a poeta...

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Aguçar, desbravar, inspirar.

Nesse frio alguns pensamentos rodam por minha mente. Eu sei , eu sei, faz tempo que apareci por aqui, mas meus dias andam meio corridos, aliás todos nós... Enfim...
Mas hoje eu acordei maravilhosamente melancólico, pensando sobre meus conceitos, sobre pensar em conceitos. Conceitos que permeiam minha mente e coração de uma forma que as vezes os dois, mente e coração, se confundem.
Eu rodei e rodei sobre o que escrever aqui,  mas parece que ao poucos os dias tem tragado nossos olhares, se tornando assim impossível a observação do outro ou das múltiplas realidades que nos cercam. Minha tragédia agora é: sobre o que escrever ? É sobre o que falar ? De amor ? De ódio ? De dor, lástima, alegria ou alergia... (tempos frios)...
Mas sob a fumaça de São Pedro, sinto que a inspiração ainda deseja uma mente de alguem para se espreguiçar, querendo ganhar formas, jeitos e cores por entre meus dedos e devaneios. Talvez a inspiração não seja algo tão metafísico ou para além desta realidade ou superfície ridícula que é esta que nos rodeia. Creio que precisamos encontrar o que nos inspira, o nos da vontade de falar, ou olhar de novo, ou simplesmente comentar com o nosso melhor amigo ou amiga.
Referenciais ainda estão em escassez nos nossos tempos, como inspirar-se a ser ? A fazer, ou escrever... ? Mas talvez a beleza da inspiração seja justamente isso, todos a desejam, mas não conseguem domina-la, ela passeia e escapa por entre nossos dedos, num ballet gracioso que vez por outra nos concede um presente, uma obra, uma música, um livro enfim. Algo que seja palpável uma prova ou resquício de que bela da inspiração passou por ali, por aquele tão simples alguém, aquele tão pequeno ser, que conseguiu criar, e recriar-se e descobri-se, porque inspirar-se também é se conhecer, se descobrir, se desbravar em si mesmo, conhecer reconhecer, nossas múltiplas faces  e papeis, nesse picadeiro, onde todos querem ver o palhaço cair,
Conselho é simples, ela pode demorar a aparacer, mas prepare seus sentidos,aguce-os para quando ela aparecer, voce estaja pronto. Inspire-se.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Ao passo...

Ao passo que passo, passo. Por mim por ela, por nós.
Peço que o passo, que eu passo, não me passe, que o tempo não venha a me tragar, que ele não venha a me apagar
Me apagar de suas memórias, dos nossos momentos, da nossa história.
Que o momento terno e eterno, não seja apagado, esquecido, jogado.
Ao passo que passo. Não me passe. Fique e tome um chá ou café, qualquer desculpa para lhe deter mais tempo em meus olhos, teu perfume em minhas narinas, o teu toque sobre minha pele.
Que o tempo não destrua os caminhos traçados, os sonhos suspirados e os amores jurados. As lembranças, os momentos. Nós.
Preciso deixar você ir, a bifurcação dos nossos caminhos tende a nos separar, a nos afastar, mas não deixe o tempo me matar, me apagar dos seus sonhos, das suas risadas, afinal agora você tem uma parte de mim.
Ao passo que passo, passo pela nossa casa velha, vejo o velho gramado, a velha cerca agora sem cor. A velha xícara ainda está na mesa, consigo ver a cozinha através da janela empoeirada, incrível como tudo me dói. O vento mistura-se às minhas lágrimas, o ar secou-me a garganta, polui meus pulmões e ali sinto falta do seu perfume. Abro então os olhos, lembro-me que preciso continuar caminhando, a dor não vai parar nem tão cedo, eu sei disso. Meu ritmo agora mudou. O fato de não conseguir respirar direito, livremente, me impede de gerar passos mais firmes e conscientes, para longe de você. O horizonte agora é a minha meta, minha casa. Sinto assim uma forte falta de uma parte de mim, mas agora é tarde para olhar pratrás, você já desapareceu em novo caminho...



sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Monofonia...

As harmonias vêm e vão da minha mente, uma hora elas sempre voltam (como as lembranças de um amor) que vez por outra, param meus atos e silenciam meu pensar.
Perco-me entre elas. Às vezes, provo de quanto é bom estar junto delas, e elas por sua vez, me trazem recados, lembretes na verdade, de sua irmã mais velha, a minha amada. Elas falam que apesar da minha distância, ela ainda continua soando, afinal de contas é através do ecoar dela que encontrarei o caminho de volta pra casa. Mas não posso negar que sinto saudades, saudades de me perder em seus abraços, me afundar em seus amassos, até mesmo resolucionar seus acidentes que inevitavelmente, transformavam as peças da minha vida monofônica, numa bela peça romântica.
Sinto-me na verdade exilado, mas nunca separado, ela me deixou uma marca profunda, o ritmo, meu coração ainda bate o “tá tá tá” descompassado distante dela (mas ainda bate); enquanto houver a doce melodia dela soando pelo ar, sinto que ainda há esperança. Meu coração, como bússola procura encontrar a voz dela que ecoa pelo ar, quanto mais próximo dela, mais dentro do compasso, da batida, meu coração estará.
Por enquanto sigo trilhando meu caminho, um andarilho, sobrevivendo nesse vale onde o silêncio me acompanha, e pareço andar em círculos, mas caminho seguindo para o Norte, para a Terra dos Sonhos Possíveis, dizem que lá existe a Anacruse, onde posso encontrar a mim mesmo, e assim reaver o tempo perdido, voltando assim para casa que fica a Oeste, da Terra dos Sonhos, porque voltar para os braços de minha amada e para casa é sem duvida o meu grande sonho.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Fora de casa


Quantos compassos me separam de sonhar?Qual a distância da mais tensa dissonância da mais bela resolução?Quantos acidentes eu posso evitar e naturalmente conhecer a melodia, sem bequadros?
O fato é que o meio me desloca, o ar me sufoca, e nesse meio de muitas vozes eu simplesmente me calo. O medo, a hesitação, a dúvida, a não compreensão do “porque estar aqui”, faz com que eu queria sempre correr, (fugir) pra dizer a verdade.
A minha voz tímida, calada, sufocada pelas outras, meu olhar perdido tentando encontrar a anacrúse, para assim poder me achar, sonhando, quem sabe, ouvir, ver e sentir essa cadencia ser revolucionada.
O “engraçado” é que no meio de tantas mentes, eu me sinto incompleto e perdido, mas me recuso a me envolver, não com elas, mas com o que chamo de “a Amante”. É como se um parte de mim, ou meu “eu” todo, estivesse numa luta contra si mesmo, esmurrando o próprio corpo, sufocando a própria voz, não a da fala, mas a da alma.
Eu realmente não sei quanto tempo eu vou ficar fora de “casa”. Tenho minhas esperanças de voltar aos braços de minha Amada, e assim reaver o tempo perdido, e junto dela ecoar pelo tempo e espaço, afinal de contas, com ela me sinto seguro, completo e inteiramente feliz.